Em pouco tempo, a crise causada pela pandemia do novo coronavírus mudou a maneira como as pessoas vivem, se relacionam e consomem. Mais do que uma transformação imediata na rotina da população, a Covid-19 provocará impactos de longo prazo no comportamento das pessoas. Com esse cenário, as marcas enfrentam o desafio de entender essas mudanças e se reposicionar para um mundo pós-pandemia.
Normalmente, leva cerca de 66 dias para alguém adquirir um novo hábito e continuar a fazê-lo quando não coagido, de acordo com Paul Marsden, psicólogo de consumo da Universidade de Artes de Londres.
Com as mudanças, há tanto perigo quanto oportunidade para nós, profissionais de marketing. “Quando há mudanças sérias no estilo e nas circunstâncias de vida, há uma mudança dramática na preferência pelas marcas que os consumidores usam e em suas percepções sobre essas marcas”, diz Peter Noel Murray, que dirige sua própria clínica de psicologia do consumidor em Nova York. À medida que a crise continua, muitas marcas estão acelerando suas iniciativas de boas ações, mas especialistas afirmam que os consumidores também esperam que essas ações continuem muito depois do coronavírus.
“Agora é a hora da ação da marca, não se trata de palavras”, analisa Marsden. Ao planejar o futuro, as marcas devem considerar as seguintes tendências, que os especialistas esperam sobreviver à Covid-19:
Fidelidade às marcas
À medida que os consumidores mudam para adotar novos comportamentos e hábitos, eles se apegam às marcas em que confiam há muito tempo para passar com elas pela crise. A mudança de “inovador e moderno” para “testado e comprovado” foi descrita em uma recente chamada de analistas de pesquisa da Evercore, que disseram que será difícil o lançamento de novas marcas nesse ambiente.
Ao contrário das empresas estabelecidas, as novas marcas também não tiveram a oportunidade de se conectar com os clientes emocionalmente e de construir uma base para navegar neste momento de incerteza. “As marcas mais antigas, que existem há muito tempo e têm o benefício da publicidade impressa e de TV tradicional, construíram o valor emocional da marca ao longo de gerações e têm uma vantagem”, comenta Murray.
Momento DIY
Os consumidores estão usando seu tempo em casa para aprender novas habilidades, como cozinhar e costurar (DIY, é a sigla em inglês para “do it yourself”, o “faça você mesmo”), e essas habilidades provavelmente não desaparecerão quando o vírus desaparecer. As compras de fermento estão subindo rapidamente, pois as pessoas recorrem ao pão como forma de alimentar suas famílias e reduzir a ansiedade através do ato terapêutico de amassar. Muitos compradores dos EUA relatam que as prateleiras do corredor de cozimento estão vazias, embora a seção não esteja tão vazia quanto o corredor do papel higiênico.
A Nielsen descobriu que as vendas de fermento aumentaram quase 650% na semana encerrada em 21 de março, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
O site popular de culinária e comércio eletrônico Food52 disse que o tráfego do site nas últimas semanas — um aumento de 36% nas últimas duas semanas de março em comparação com a primeira metade do mês — está equivalente ao da semana que antecedeu o Dia de Ação de Graças, a maior semana do ano. No início da pandemia, o Food52 se dedicou a mais conteúdos e receitas para apoiar sua comunidade agora em casa, de acordo com uma porta-voz. Sem surpresa, um dos principais artigos do site é sobre a escassez de fermento e contém dicas sobre como fazer fermento a partir do zero. As vendas em dólar de pequenos eletrodomésticos, como máquinas de fazer macarrão e espremedores, subiram 8% na semana que terminou em 14 de março, em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo a empresa de pesquisa NPD Group.
Com o fechamento de salões de beleza, os consumidores também estão se acostumando a fazer seus próprios cabelos. A Nielsen relatou um aumento de quase 20% nas vendas de kits de coloração de cabelo na semana encerrada em 21 de março; segundo a marca Madison Reed, houve um aumento na demanda à medida que os clientes começaram a pintar seus próprios cabelos. “O tráfego para o site da marca quadruplicou nas últimas semanas e, como resultado, a empresa está ampliando suas linhas de atendimento ao cliente e tutoriais online”, afirma Mary O’Connell, vice-presidente de comunicações e conteúdo.
Tendência digital
Assim como empresas de mídia e pesquisa estão transformando eventos ao vivo em virtuais, o mesmo ocorre com os consumidores que estão se adaptando à digitalização de seus comportamentos. Alguns consumidores mais velhos podem ter ficado desconfortáveis com a compra de mantimentos ou outros produtos online, mas o coronavírus os forçou a ficar confortáveis. Especialistas afirmam que, quando entram na nova rotina e se acostumam com a facilidade de entrega à sua porta, esses compradores podem achar uma pressão ter de voltar ao varejo físico.
Quase 40% dos atuais compradores online fizeram sua primeira compra em março, de acordo com um estudo da SmartCommerce, plataforma de comércio eletrônico para marcas de produtos embalados. “As pessoas estão sendo forçadas a fazer coisas novas e isso vai acelerar a transformação digital”, opina Marsden.
Além disso, mais médicos e outros prestadores de serviços médicos oferecem consultas online como uma maneira de ver seus pacientes em situações não emergenciais. Os especialistas acreditam que a telemedicina continuará sendo uma tendência. Aqui no Brasil, ela foi recentemente liberada para ajudar no combate do novo coronavírus.
Os consumidores também estão recorrendo ao banco digital para gerenciar suas finanças quando não podem visitar uma agência bancária. Embora muitos bancos ainda mantenham uma presença física robusta, isso pode mudar à medida que veem esses imóveis como redundantes e obsoletos.
Mudanças na rotina de trabalho
Muitos esperam que a situação de tantos brasileiros que atualmente trabalham em suas casas leve a uma mudança dramática em acordos de trabalho mais flexíveis, enquanto algumas empresas percebem que não é necessário ter todos em um escritório para fazer as coisas do dia a dia.
Além disso, alguns empregadores podem se beneficiar porque os funcionários estão gastando menos tempo para viajar e consequentemente tendo mais tempo para trabalhar. Os trabalhadores também terão mais controle para gerenciar suas funções como pais e cuidadores, se puderem trabalhar em casa. De acordo com uma pesquisa realizada com 500 pessoas, 40% a 50% dos entrevistados disseram que voltarão às suas rotinas anteriores, incluindo trabalho, escola, recreação e entretenimento.
Ao mesmo tempo, o ritmo dos negócios já mudou drasticamente, segundo vários executivos de marketing. As ligações estão substituindo as reuniões em alguns casos, e muitas têm prazos para evitar perda de tempo desnecessária. Os profissionais de marketing e suas agências estão aprendendo a ser mais ágeis e rápidos na tomada de decisões.
Segurança e privacidade
Embora os consumidores tenham aumentado a proteção de sua privacidade e de seus dados pessoais nos últimos anos, especialistas afirmam que isso está mudando durante a crise do novo coronavírus. Muitos estão transferindo a responsabilidade de mantê-los seguros para o governo e seus líderes, mesmo que isso signifique abrir mão de sua própria privacidade no processo.
“Isso tem sérias implicações do ponto de vista publicitário”, diz Marsden, observando que gigantes da tecnologia como o Facebook e o Google foram pintados anteriormente como empresas que roubam dados e informações pessoais e os usam contra os consumidores. “Eles são conhecidos por serem os caras maus, mas agora, se isso persistir, podemos avançar para um estado de vigilância”, acrescenta. “As pessoas estão dispostas a trocar suas liberdades por segurança”.
Novo normal
Crises como a que estamos vivendo atualmente nos obrigam a fazer uma pausa para pensar nas atitudes que devem ser mudadas e também na construção de um novo planejamento em um cenário cheio de incertezas. O impacto da pandemia de Covid-19 trará mudanças importantes e significativas não só às áreas do conhecimento humano, mas também sérias consequências econômicas e políticas que levam a profundas mudanças socioculturais. Por isso, devemos nos preparar para um novo futuro. Para o novo normal.
Como a sua empresa está lidando com os impactos causados pela crise do novo coronavírus? Quais foram as mudanças que essa pandemia trouxe para a sua vida? Você está preparado?!